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Carminho, Mariza e a nova geração do fado contemporâneo

Carminho, Mariza e a nova geração do fado contemporâneo

Se pensavas que o fado se limitava aos velhos bairros de Lisboa, às luzes baixas e às vozes carregadas de nostalgia, desengana-te : hoje, ele ganha uma nova forma. Ousa, cria, mistura estilos, e dois nomes participam ativamente nessa transformação : Carminho e Mariza. Duas vozes, dois caminhos, mas um mesmo credo : fazer o fado viver, respeitá-lo, e ao mesmo tempo torná-lo contemporâneo (sim, é possível !)

Duas mulheres, duas sensibilidades

Mariza (nascida Marisa dos Reis Nunes) já é um ícone (de certeza que já a conheces). Soube levar o fado para além de Portugal, colaborou com Sting, Gilberto Gil, introduziu tonalidades pop, funk, tudo sem perder a essência da “saudade”.

Carminho (Maria do Carmo Carvalho Rebelo de Andrade) é mais jovem, vem de uma herança familiar fadista, mas não se contenta em “ser apenas a filha de”. Reinventa o fado, alarga-o, dá-lhe toques de jazz, pop e sonoridades brasileiras.

Porque é que são “a nova geração” do fado ?

Porque os tempos mudam. O mundo muda. O público muda. E o fado, para sobreviver, tem de se adaptar (claro que sim !)

Carminho afirma que “não se trata de mudar o fado, mas de trabalhar nele, como uma artesã com as mãos”.

Mariza, por sua vez, fala muitas vezes em “fazer a ponte” entre a tradição, as Casas de Fado, as guitarras portuguesas e o mundo de hoje e fá-lo muito bem, é uma artista atual.

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Assim, tocam dois públicos e é isso que torna tudo interessante, a sua complementaridade : os puristas que querem ouvir a voz do passado, e os novos ouvintes que procuram emoção, voz, mas também uma energia contemporânea.

Os pontos em comum e as diferenças

Têm, claro, pontos em comum, como as suas vozes fortes (expressivas, capazes de arrepiar) ; o respeito pelas raízes (conhecem o fado “à moda antiga”) ; e uma abertura internacional, não cantam “só para Lisboa”. 

Mas sabem diferenciar-se. Mariza mantém-se frequentemente em produções de grande escala, espetáculos de “diva do fado”, com grande orquestra e digressões internacionais. Carminho, por outro lado, gosta mais de experimentar : álbuns conceptuais, colaborações brasileiras, toques pop/jazz.

Por exemplo : Carminho colaborou com artistas brasileiros e lançou um disco chamado “Carminho Canta Tom Jobim”.

Um momento a não perder

Imagina-te a assistir a uma atuação de Carminho num pequeno teatro em Lisboa. Luz suave, guitarras portuguesas, a voz que sobe, as palavras que pesam… mas também essas inflexões modernas : um efeito de loop na voz, um acorde jazz inesperado, uma projeção visual atrás dela. O resultado : o fado como nunca o viste… e tenho a certeza de que irias adorar.

Porque é que isto atrai um público mais jovem ?

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Porque há aqui algo de autêntico, não apenas um “revival vintage”. Há o antigo e o novo. Há a voz que conta a história, mas também o som que encaixa nas nossas playlists do Spotify. Há o fado do bairro, mas também o fado que pode animar um DJ set num clube a seguir. E depois : estas artistas falam à sua geração. Cresceram com os vinis dos pais, aprenderam marketing, palco e redes sociais. Partilham uma preocupação : como manter a alma quando tudo é globalizado ? E conseguem fazê-lo (e muito bem, aliás).

Então, onde as ouvir ?

Mariza atua regularmente no estrangeiro, mas também em Lisboa, no Porto ou em festivais de “world music”. Carminho prefere ser mais intimista : pequenas salas, sessões especiais, álbuns “para ouvir, não apenas para viver”.

E para a tua agenda : quando surgir um concerto de uma ou de outra, pensa “bilhete + earlybirds”, porque esgota depressa (sim, há muita procura !)

E depois ?

A nova geração não se limita a elas. Outras jovens fadistas, outros instrumentos, outras fusões estão a surgir. O fado contemporâneo é muito mais amplo do que se pensa. Mas Carminho e Mariza são hoje as suas figuras de proa, e isso sabe bem. Porque sim : o fado pode vibrar, pode surpreender, pode abrir-se sem perder a sua essência. Por isso, se vires o cartaz “Carminho / Mariza” ou “Fado contemporâneo” : vai ! Desliga o telemóvel, ouve, sente. Deixa-te levar pela voz, pela guitarra, pela “saudade” modernizada.

E lembra-te : às vezes, basta uma canção para atravessar um instante !