
Se pensava que o Carnaval se resumia a uma simples fantasia, alguns confetis e um pouco de música, deixe-me mostrar-lhe outra dimensão : a do Carnaval de Torres Vedras ! (e garanto-lhe, nunca mais verá o Carnaval da mesma maneira) Quando se fala de festa popular portuguesa, é quase sempre este que vem à mente “o Carnaval mais português de Portugal”.
Pequena história, grande lenda
O Carnaval de Torres Vedras tem raízes antigas : embora o “entrudo” (que antecede a Quaresma) seja celebrado há séculos na região, foi a partir de 1923 que ganhou a forma organizada que conhecemos hoje, com a nomeação de um Rei do Carnaval (sim, aqui leva-se mesmo a sério !) e a chegada dos corsos, carros alegóricos e outras grandes paradas.
Imersão : bem-vindo à doce loucura de Torres Vedras
Entra em Torres Vedras e, logo nos primeiros passos, percebe que este não é um carnaval “como os outros”. Durante seis dias (da sexta-feira à Quarta-Feira de Cinzas), a cidade inteira transforma-se num gigantesco palco ao ar livre. As ruas enchem-se de música, fanfarras, carros coloridos e confetis que voam como borboletas. À sua volta, as matrafonas (homens vestidos de mulheres extravagantes, pestanas postiças e saltos vertiginosos) posam para selfies a rir, enquanto os Zés-Pereiras batem nos tambores com um ritmo que vibra no peito. São apenas 15h e a multidão já se move como uma onda. Uns dançam, outros bebem um copo nas esplanadas transformadas em mini-bares improvisados, outros inventam coreografias no meio da avenida principal.
O mais incrível é esta liberdade : sem hierarquias, sem snobismos, sem “visual obrigatório”. Aqui, todos entram no jogo, basta uma máscara, uma peruca ou um vestido colorido, e faz parte da festa (claro que sim !). Quando cai a noite, os carros iluminam-se, as guitarras elétricas misturam-se com os tambores, e o ambiente torna-se elétrico. Sente-se este equilíbrio perfeito entre tradição popular e festa urbana moderna.
Há os habitantes de sempre, que nunca faltam a uma edição, e os curiosos vindos de fora, de boca aberta perante esta explosão de riso e criatividade. Cruza-se com um casal de reformados vestidos de super-heróis (adoro !), um grupo de estudantes mascarados de sardinhas gigantes e crianças com o rosto pintado, saltitando ao som dos tambores. E depois há aquele momento suspenso, aquele em que, sob uma chuva de confetis, a música para por um segundo… antes de recomeçar com ainda mais força !

© carnaval_de_torres
Porque é que vamos (e porque ficamos)
A atmosfera
Chega, põe a máscara e passeia entre carros alegóricos gigantes (alguns com mais de 5 m de altura !), fanfarras, danças, “batalhas de flores” e batalhas de cocotes. Uma mistura deliciosa de loucura e tradição.
A liberdade
“Aberto a todos, sem barreiras”, como dizem alguns jornais : o Carnaval de Torres Vedras não é uma festa apenas para turistas ou foliões é uma festa da comunidade, para todos.
O humor e a sátira
Todos os anos, há crítica, ironia e atualidade vistas através das fantasias e dos desfiles. O Rei e a Rainha do Carnaval (dois homens, um deles vestido de mulher) mudam a cada edição, sempre num espírito de paródia.
O espetáculo visual
Carros decorados, carros espontâneos, trajes às vezes loucos, quase artesanais mas incrivelmente criativos. Num mundo onde as festas tendem a parecer todas iguais, aqui sente-se a autenticidade do feito à mão.
A duração e a intensidade
A edição de 2025, por exemplo, realizou-se de 28 de fevereiro a 5 de março. São cinco a seis dias de festa sem parar, com cerca de 460 000 a 500 000 participantes em alguns dias.
O que viver no local
- O corso diurno (desfile diurno) com carros, grupos mascarados, brilhos e gargalhadas.
- O corso noturno (desfile noturno), quando toda a cidade se ilumina, a música cresce e as multidões dançam.
- O ritual do “Enterro do Entrudo” (enterro simbólico da festa) na Quarta-Feira de Cinzas.
- As praças animadas, os DJ sets, as ruas transformadas em zonas de festa
- O momento simples em que passa, mascarado ou não, mistura-se à multidão, ri, atira uma cocote, dança !
Alguns conselhos para aproveitar
Vá com fantasia (sim, é A altura do ano em que pode tirar do armário aquele fato de Superwoman, vá lá, liberte-se !) : máscaras, cores, boa disposição. Muda tudo !
Leve uma pequena mochila, água e sapatos confortáveis (sim, nada de saltos altos, meninas !).
Escolha bem o dia : se procura os carros e a multidão, o domingo e a segunda são os mais fortes. Para um ambiente mais leve, talvez o domingo à tarde (consulte o programa antes de ir).
Alojamento : a cidade e os arredores enchem rápido, reserve com antecedência, sobretudo se vier de longe.
Respeite a festa : divirta-se, seja criativo/a, mas também respeite os participantes locais é a festa deles tanto quanto sua, e há espaço para todos !
Prove o ambiente local : bancas de comida, momentos de descanso, passeios entre desfiles. Não é só espetáculo, é também convivência.
Porque falamos disso agora ?
Porque em 2025, o Carnaval de Torres Vedras foi eleito “Best Festivity” nos Iberian Festival Awards. Porque, com as redes sociais, as imagens correm o mundo e este Carnaval ultrapassou as fronteiras da região, conquistando um público europeu e internacional. Porque num mundo onde tantas festas se tornam “formatadas”, aqui sente-se uma verdadeira alma de bairro, uma comunidade inteira em celebração. E, sejamos honestos ? É simplesmente divertido viver isto. Esquecemos um pouco os ecrãs, voltamos à rua, deixamos o sério de lado e vestimos uma máscara. Entramos num mundo onde, durante alguns dias, tudo é permitido (ou quase !).
Se procura um evento que faça rir, dançar e que o mergulhe na tradição ao mesmo tempo que o deixa ser livre, então ponha o “Carnaval de Torres Vedras” na sua lista. Leve as fantasias, o bom humor e talvez um pouco de coragem para atirar uma cocote. E lembre-se : por trás do brilho há uma tradição, uma comunidade e, acima de tudo, um instante em que a cidade inteira decide ser feliz. Não perca.
Vá lá, boa folia e… vista o seu disfarce de Superwoman ou Superman !
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