
Quando pensamos em museus, imaginamos muitas vezes longas salas silenciosas, quadros que observamos sem ousar falar e vigilantes que nos seguem com o canto do olho. Mas em Portugal, os museus têm um sabor completamente diferente. Aqui, cheiram por vezes a mar, a madeira encerada, a couro envelhecido… e até a sardinha assada! De norte a sul, o país está repleto de museus únicos, lúdicos, por vezes um pouco excêntricos, que contam a sua história à sua maneira. Esqueçam os clichés: é tempo de dar lugar à curiosidade, à criatividade, a um toque de fantasia e, sobretudo, a ideias de passeios muito giras!
Sardinhas em conserva… mas não só
É impossível começar sem falar de um dos símbolos mais saborosos de Portugal: a sardinha. Sim, aquela famosa, que se come assada durante o São João, que se encontra pintada nas paredes ou estampada nas t-shirts. Ela tem até o seu próprio museu : The Fantastic World of the Portuguese Sardine, em Lisboa e no Porto (e até em Nova Iorque, yeah!).
Logo à entrada, o tom está dado: luzes vivas, música de circo e cenários extravagantes. Não estamos num museu clássico, mas sim num verdadeiro espetáculo. Aqui, a sardinha é rainha, celebrada através de instalações divertidas, latas coloridas e uma cenografia digna de um parque de diversões vintage. Cada sardinha é decorada, ilustrada, datada… e por vezes até personalizada com o vosso ano de nascimento. Sim, podem sair de lá com a vossa sardinha de 1989 ou de 1992, em edição limitada! (mas é só a lata que é desse ano, fiquem tranquilos, as vossas sardinhas não foram pescadas no ano em que nasceram!)
É kitsch, alegre, assumido, e resulta. Este museu (ou deveríamos dizer esta experiência sensorial à base de peixe) encanta tanto as crianças como os adultos, fascinados pela engenhosidade portuguesa. Porque por detrás da fantasia, esconde-se um verdadeiro orgulho nacional: o de ter transformado um produto do quotidiano num ícone cultural.
O museu das marionetas, regresso à infância garantido
Em Lisboa, escondido num antigo convento, encontra-se um lugar onde a magia acontece desde os primeiros minutos : o Museu da Marioneta. Se pensam que as marionetas são apenas para crianças, desenganem-se. Este museu é uma joia, ao mesmo tempo poética e surpreendente.
Descobrem-se marionetas de todo o mundo, bonecos tradicionais portugueses, figuras da Ásia, de África e da América do Sul, todas mais expressivas umas do que as outras. Algumas têm séculos de história, outras parecem saídas de um filme de Tim Burton. O percurso, muito bem pensado, alterna entre momentos de contemplação e descobertas interativas.
O mais fascinante ? A coleção dedicada ao teatro de marionetas de Dom Roberto, uma arte popular portuguesa inscrita na memória coletiva. Estas pequenas figuras, animadas nas ruas ou nas praças, faziam rir, chorar e refletir os espectadores de outros tempos. Ao vê-las hoje, percebemos que esses espetáculos de rua eram muito mais do que entretenimento: eram uma forma de contar a vida, a sociedade e as esperanças do povo.
E, cereja no topo do bolo, o museu propõe regularmente oficinas de criação de marionetas, perfeitas para despertar a criança que há em vocês (e voltar a usar a tesoura sem culpa !).

Um desvio real, o Museu Nacional dos Coches
Deixemos as risadas por um pouco de majestade. Rumo a Belém (ainda em Lisboa), onde se encontra um dos museus mais impressionantes (e mais fotografados) do país: o Museu Nacional dos Coches.
É um lugar à parte. Por detrás da sua fachada contemporânea esconde-se uma coleção digna de um conto de fadas: coches dourados, esculpidos, incrustados, pintados, que pertenceram à nobreza e à realeza portuguesas. Alguns datam do século XVII e são tão extravagantes que parecem saídos de um filme histórico de grande orçamento.
O silêncio dos visitantes contrasta com a opulência dos veículos expostos: madeira envernizada, veludo vermelho, dourados em abundância. Cada coche conta uma história, muitas vezes de amor, por vezes de guerra, sempre de poder. Descobre-se que estes veículos não eram apenas meios de transporte, mas verdadeiros símbolos de prestígio e comunicação política. E mesmo que não sejam apaixonados por história monárquica, é difícil não ficar deslumbrado com a beleza do lugar. É uma pausa fora do tempo, uma viagem a um Portugal faustoso, o dos reis, das rainhas e dos artesãos de exceção.
Museus que fogem aos caminhos habituais
Portugal tem este talento de tornar fascinante o que, noutros lugares, passaria despercebido. Tomem por exemplo o Museu do Pão, situado em Seia, na Serra da Estrela. Sim, um museu inteiramente dedicado ao pão e não apenas à sua fabricação! Aqui, explora-se a história do pão português, os seus símbolos, os seus rituais e o seu lugar na cultura popular (é bastante lúdico e até as crianças têm a possibilidade de sair com o seu próprio pão !).
Entre receitas antigas e utensílios tradicionais, descobre-se um património tão humilde quanto universal. E o ponto alto da visita ? A padaria do museu, onde se pode provar um pão acabado de sair do forno. Podemos dizer que a visita raramente termina de estômago vazio (como em muitos lugares em Portugal, acho que já repararam nisso).
Outra curiosidade, em Peniche desta vez : o Museu da Renda de Bilros, dedicado à renda tradicional. Este saber-fazer, transmitido de geração em geração, é um tesouro do litoral português. O museu destaca os gestos precisos das rendeiras, os seus motivos delicados e a paciência infinita necessária para criar estas obras de arte têxteis. É ao mesmo tempo relaxante, fascinante e de uma beleza rara.
E para os amantes da modernidade, o MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia), em Lisboa, oferece uma visão decididamente contemporânea. Instalado nas margens do Tejo, a sua arquitetura futurista atrai tanto quanto as suas exposições. Aqui, o museu torna-se um lugar de diálogo entre passado e futuro, entre criatividade humana e inovação tecnológica.
O charme discreto dos museus de província
Se Lisboa e o Porto concentram a maioria dos grandes museus, as pequenas cidades portuguesas também estão repletas de tesouros escondidos. Em Évora, por exemplo, o Museu de Évora abriga uma impressionante coleção de arte religiosa, num antigo palácio episcopal. Em Tomar, o Museu dos Fósforos surpreende pela sua originalidade: mais de 40 000 caixas de fósforos vindas de todo o mundo, cuidadosamente alinhadas por tema e época. É ao mesmo tempo poético e totalmente inesperado.
E depois, há esses pequenos museus mantidos por apaixonados, como o do Cortiça, em São Brás de Alportel, no Algarve, que conta a vida desta árvore generosa e a importância da cortiça na economia e na cultura portuguesas. Ao sair, nunca mais olhamos para uma rolha da mesma maneira.
A arte de contar de outra forma
O que une todos estes museus, no fundo, é algo simples: a paixão de contar. Seja de pão, de coches, de marionetas ou de sardinhas, cada lugar encarna uma faceta da alma portuguesa : entre humor, memória e poesia.
Aqui, não se visita para “riscar uma lista”, mas para viver uma experiência, sentir algo. Estes museus insólitos lembram que a cultura não é reservada às elites: encontra-se nos gestos do quotidiano, nos objetos familiares, na criatividade popular. E confessemos: sai-se sempre com um sorriso (e recordações!). Porque em Portugal, até os museus têm esse dom raro, o de nunca se levarem demasiado a sério.
Então, prontos para sair dos caminhos habituais ?
Da próxima vez que visitarem Portugal, deixem de lado os museus demasiado formais. Esqueçam as filas de espera e os audioguias entediantes. Empurrem antes a porta de um pequeno museu local, ouçam as histórias que ali se sussurram, respirem os cheiros de madeira, de mar ou de pão quente.
Os museus insólitos de Portugal são como o próprio país : simples, autênticos, generosos. Não procuram impressionar, mas partilhar. E talvez seja esse o segredo do seu charme, essa forma tão portuguesa de transformar a memória em emoção, e a cultura num momento de vida.
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