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Portugueses e brasileiros, os “falsos amigos” da mesma língua

Portugueses e brasileiros, os “falsos amigos” da mesma língua

Descubra os falsos amigos entre o português de Portugal e o do Brasil e evite mal-entendidos com este guia prático e divertido.

Par Jennifer Almeida

O português é uma língua fascinante. É a língua oficial tanto em Portugal como no Brasil, partilhando a mesma base gramatical e mais de 90% do vocabulário. Mas quem já conversou entre portugueses e brasileiros sabe bem: há momentos em que parece que falamos duas línguas diferentes.

Essas pequenas armadilhas linguísticas são conhecidas como “falsos amigos”, palavras que se escrevem ou soam de forma semelhante, mas que têm significados muito diferentes de um lado e do outro do Atlântico.

Algumas são apenas curiosas; outras podem gerar mal-entendidos engraçados… ou situações ligeiramente embaraçosas.

Neste guia reunimos os falsos amigos mais frequentes entre o português europeu e o português do Brasil, explicando as diferenças e as histórias por detrás de cada termo !

© biblioalgarve

1. “Rapariga” vs. “Moça”

Um dos clássicos !
Em Portugal, “rapariga” é apenas uma jovem ou menina.
No Brasil, porém, “rapariga” é um termo pejorativo, usado para designar uma prostituta.

É fácil imaginar o choque de um brasileiro ao ouvir um português dizer naturalmente : “A rapariga que trabalha comigo é muito simpática.”

No Brasil, a frase correta seria : “A moça que trabalha comigo é muito simpática.”

E, em Portugal, dizer “moça” soa um pouco antiquado, usado apenas em contextos regionais.

2. “Bicha” vs. “Fila”

Outro caso muito conhecido entre viajantes e expatriados.

Em Portugal, “bicha” significa fila de pessoas — por exemplo, “estar na bicha para o supermercado”.

No Brasil, “bicha” é um termo ofensivo para se referir a um homem homossexual (ainda que alguns grupos o usem hoje em dia com humor e orgulho).

Um turista brasileiro pode estranhar ao ouvir um português dizer:

“Estive meia hora na bicha do pão.”

Para evitar confusões, os brasileiros dizem simplesmente:

“Fiquei meia hora na fila do pão.”

3. “Autocarro” vs. “Ônibus”

Aqui, a diferença é apenas lexical, mas total.

Em Portugal diz-se “autocarro”, e no Brasil “ônibus”.

Ambas as palavras vêm de origens diferentes : “autocarro” do francês autocar, “ônibus” do inglês omnibus.

Portugal : “Vou apanhar o autocarro.”

Brasil : “Vou pegar o ônibus.”

Curiosamente, o verbo também muda : “apanhar” em Portugal é neutro, mas no Brasil tem outro significado…

4. “Apanhar” vs. “Pegar”

Em Portugal, “apanhar” significa pegar, agarrar ou tomar.

No Brasil, “apanhar” quer dizer levar uma surra, ser agredido.

Por isso, se um português disser “Vou apanhar o comboio”, um brasileiro pode imaginar algo bem diferente do que simplesmente “pegar o trem”.

5. “Comboio” vs. “Trem”

Mais um caso de vocabulário divergente.

Em Portugal diz-se “comboio” ; no Brasil, “trem”.

Ambos corretos, apenas variantes regionais.

Mas no Brasil, “trem” pode ser até uma palavra genérica para “coisa” :

“Pega aquele trem ali !”, pode ser qualquer objeto.

6. “Propina” vs. “Mensalidade”

Um falso amigo institucional.

Em Portugal, “propina” é o valor pago à universidade.

No Brasil, “propina” é suborno, dinheiro ilícito.

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Imagine um estudante brasileiro acabado de chegar a Lisboa a ouvir :

“Já pagaste a propina ?”

É natural que fique de olhos bem abertos.

7. “Esquisito” vs. “Engraçado”

Em Portugal, “esquisito” quer dizer estranho, fora do comum.

No Brasil, pode ter o mesmo sentido, mas também ser usado de forma mais negativa ou suspeita.

Já “engraçado”, que em Portugal é divertido ou curioso, no Brasil pode ser dito com ironia : “Ah, engraçado você !” = “Que audácia !”.

8. “Cueca” vs. “Cueca”

Aqui, uma coincidência com duplo sentido.

Em Portugal, “cueca” é roupa interior masculina.

No Brasil, pode ser isso também, mas “calcinha” é usada para a feminina.

No entanto, “andar de cuecas” em Portugal é apenas estar de roupa interior ; no Brasil, a expressão soa muito mais informal e até cómica.

9. “Pequeno-almoço” vs. “Café da manhã”

Um dos falsos amigos mais inofensivos, mas que ilustra bem as diferenças culturais.

Em Portugal, “pequeno-almoço” ; no Brasil, “café da manhã”.

Ambos significam “breakfast”, mas em Portugal costuma ser mais leve, enquanto no Brasil é mais variado, com frutas, sumos e bolos.

10. “Fato” vs. “Terno” vs. “Roupa”

Este trio confunde até tradutores.

Em Portugal, “fato” é terno, roupa formal, ou até “fato de banho”.

No Brasil, “fato” é acontecimento.

Portanto, se um português disser “Comprei um fato novo”, um brasileiro pode pensar que ele comprou uma história.

11. “Camisola” vs. “Camisinha”

Prepare-se: este é um dos mais famosos (e perigosos).

Em Portugal, “camisola” é suéter, blusa ou camisa de dormir.

No Brasil, “camisinha” é preservativo.

Evite dizer no Brasil : “Comprei uma camisinha para o frio.” Pode causar risadas.

12. “Pasta” vs. “Mala”

Em Portugal, “pasta” é pasta de documentos ou bolsa de trabalho.

No Brasil, “mala” é usada para bagagem.

Mas cuidado : “mala”, em gíria brasileira, pode significar pessoa chata.

13. “Rolo” vs. “Namoro”

As expressões de amor também mudam de sotaque.

Em Portugal, “rolo” é uma relação informal, sem compromisso.

No Brasil, “rolo” é confusão, problema.

Para falar de namoro sério, ambos usam “namoro”, mas com graus diferentes de formalidade.

14. “Giro” vs. “Legal”

Em Portugal, “giro” quer dizer bonito, interessante, simpático.

No Brasil, “giro” é apenas “volta” (dar um giro = dar uma volta).

Se um português diz “És muito giro”, é um elogio.

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No Brasil, dizem “Você é legal” ou “Você é bonito(a)”.

15. “Puto” vs. “Criança”

Outro potencial mal-entendido.

Em Portugal, “puto” é criança, rapaz jovem.

No Brasil, “puto” é extremamente irritado.

Por isso, cuidado com frases como “Gosto muito do teu puto” ;  em Portugal é carinhoso, no Brasil soa muito mal.

16. “Bonito”, “Giro” e “Fixe”

Embora partilhem significados, o uso varia.

Em Portugal, “fixe” significa ótimo, legal.

No Brasil, soa estranho ; preferem “legal” ou “maneiro”.

17. “Chatear” vs. “Encher o saco”

Expressões típicas de irritação.

Em Portugal : “Não me chateies !”

No Brasil : “Não enche !” ou “Não me amola !”

O sentido é o mesmo, “deixa-me em paz”, mas o tom é culturalmente diferente.

18. “Sumo” vs. “Suco”

Simples e direto.

Em Portugal : “sumo de laranja”.

No Brasil : “suco de laranja”.

Uma diferença pequena, mas útil na hora do pequeno-almoço, ou do café da manhã.

19. “Autocarro”, “Camião”, “Carrinha”

Em Portugal, estes termos são específicos:

autocarro = ônibus, camião = caminhão, carrinha = van ou kombi.

No Brasil, cada um tem a sua versão própria, o que pode complicar certas conversas.

20. “Empregado” vs. “Funcionário”

Ambos significam trabalhador, mas o tom muda.

Em Portugal, “empregado de mesa” é o “garçom”.

No Brasil, dizem simplesmente “garçom”.

“Funcionário” é neutro em ambos os países.

Porque existem tantos falsos amigos

As diferenças entre o português europeu e o brasileiro vêm da evolução histórica, cultural e social.

O Brasil desenvolveu um vocabulário próprio, influenciado por línguas indígenas, africanas e, mais tarde, pelo inglês.

Portugal manteve construções mais próximas do latim e do francês.

No fundo, cada lado do Atlântico moldou a língua à sua realidade, e é isso que a torna tão rica.

Como evitar mal-entendidos

Observe o contexto : a mesma palavra pode mudar de sentido consoante a situação.
Veja séries e programas locais : é uma forma divertida de aprender as diferenças.
Converse com nativos : ninguém melhor que os próprios portugueses e brasileiros para explicar as nuances.
Aceite os lapsos com humor: os melhores erros dão sempre as melhores histórias.

Portugal e Brasil partilham uma língua, mas também um universo cultural diverso.

Conhecer os falsos amigos é uma forma de aproximar as duas variantes, evitando confusões e descobrindo a beleza das diferenças.

No fim de contas, é essa variedade que faz do português uma das línguas mais expressivas e ricas do mundo.