
Confessemos : quando pensamos em faiança, imaginamos muitas vezes os pratos da avó ou os bibelôs um pouco empoeirados num aparador de carvalho maciço. E no entanto… em Portugal, há uma marca que conseguiu o feito de tornar a cerâmica cool, moderna e, sejamos honestos, absolutamente irresistível. O nome ? Bordallo Pinheiro.
Sim, esse nome que soa quase como um refrão de fado remixado por um (bom) DJ contemporâneo esconde uma história fascinante, ligeiramente excêntrica e profundamente portuguesa.
O legado de um artista fora do comum
Para compreender o ADN de Bordallo Pinheiro, é preciso recuar ao século XIX, à época em que Rafael Bordallo Pinheiro (caricaturista, pintor, ceramista e espírito livre muito antes do seu tempo… sim, tudo isso !) decide transformar a faiança num meio de expressão artística. Estamos em 1884, nas Caldas da Rainha (a norte de Lisboa). O homem, tão conhecido pelo humor como pelo talento, funda uma fábrica de cerâmica que rapidamente se tornaria lendária ! Cria peças ao mesmo tempo realistas e irreverentes : couves, peixes, rãs, sardinhas, limões, melancias e até malaguetas, tudo em cerâmica brilhante e colorida.
Sim, leram bem : couves. E, no entanto, as suas criações tornaram-se ícones. Porque foi preciso ousar. E porque ele compreendeu, muito antes de todos, que a beleza também se encontra no quotidiano (visionário, não acham ?) O seu estilo ? Irónico, vivo, cheio de autoironia. O seu universo ? Uma mistura de natureza, humor e um sentido de detalhe quase poético. Em suma, Bordallo Pinheiro é um pouco aquele artista que hoje em dia publicaria reels artísticos no Instagram (e sim, provavelmente teria mais likes do que as minhas férias !)

O renascimento de um mito
Depois de décadas de existência, a marca conheceu altos e baixos (como todas as grandes famílias, não é ?). Mas a viragem chegou em 2009, quando o grupo Vista Alegre Atlantis (sim, o gigante português da porcelana !) adquiriu Bordallo Pinheiro.
E aí, magia : tradição + inovação = renascimento. A marca modernizou-se sem perder a alma.
As peças clássicas foram reinventadas com cores pop, formas mais arrojadas e um toque contemporâneo que faz toda a diferença. As emblemáticas couves verdes convivem agora com morangos fluorescentes, limões vibrantes, cogumelos gigantes e até coleções inspiradas na biodiversidade. Tudo feito à mão, com um saber-fazer que honra os artesãos portugueses. Cada peça é uma pequena obra de arte, entre o kitsch e a poesia.
Das Caldas da Rainha às mesas do mundo inteiro
Hoje, Bordallo Pinheiro é um símbolo do design português, exposto em galerias, vendido em concept stores e orgulhosamente presente nos mais belos hotéis e restaurantes do mundo. Chefs com estrelas Michelin servem os seus pratos em louça Bordallo, decoradores usam as suas peças como toque final elegante e irreverente, e no Instagram, as mesas Bordallo tornaram-se um must para qualquer amante de design (e de brunchs bem apresentados). É um pouco como se as couves da avó tivessem sido repensadas por um estilista de moda : ao mesmo tempo vintage e incrivelmente modernas.
A arte do quotidiano, com uma piscadela de olho
O que se adora em Bordallo Pinheiro é esta capacidade de tornar o banal extraordinário. De fazer sorrir, de surpreender, de lembrar que o design não precisa de ser frio nem elitista. Aqui, tudo está no detalhe : uma textura, um brilho, uma exageração intencional… E, acima de tudo, aquele toque de humor tipicamente português, o que faz com que um prato possa contar uma história. Num mundo em que tudo se tornou descartável, ter uma peça Bordallo Pinheiro é como dizer : “Eu escolho a beleza, a durabilidade e um toque de ousadia.” Sim, porque estas peças são de alta qualidade e muito duráveis.
Um património vivo e assumido
Ainda hoje, os ateliers das Caldas da Rainha funcionam como no tempo de Rafael Bordallo Pinheiro : cada peça é moldada, vidrada e pintada à mão. Nada de produção em massa, nada de frio. Matéria verdadeira, gesto, paixão. E é provavelmente isso que torna esta marca tão cativante : manteve a sua humanidade, a sua loucura doce e a sua sinceridade.
Sim, Bordallo Pinheiro são couves, peixes e frutos em faiança. Mas é, sobretudo, uma lição de criatividade e identidade : a de um Portugal que ousa, que se diverte e que afirma a sua cultura sem se levar demasiado a sério (e resulta !) Portanto, se encontrarem um prato em forma de folha, um peixe de olhar maroto ou uma terrina em forma de abóbora, não se riam demasiado depressa : estão perante um ícone ! E da próxima vez que convidarem amigos para jantar, imaginem as caras deles quando servirem tapas numa taça em forma de morango gigante… assinada Bordallo Pinheiro.
Acreditem, isto não é apenas loiça.
É arte.
E é Portugal, em versão pop !
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