Os Portugueses são fãs de bem e barato. Pode-se quase dizer que é um lema nacional (sobretudo lá de cima, no norte !) onde se negoceia o preço de um quilo de tomates com a mesma seriedade que um contrato imobiliário. Entre supermercados, mercados locais, lojas de segunda mão e aplicações móveis, Portugal está cheio de truques para consumir bem sem rebentar o orçamento. O que se segue não é teoria de marketing : é vida real, é dia a dia, é o carrinho das compras. A ideia é simples : onde comprar, o que comprar, e em que momento, para pagar menos sem perder qualidade.

Os supermercados portugueses, jogue com a concorrência
Portugal tem uma vasta rede de supermercados, e cada insígnia tem a sua personalidade, os seus pontos fortes, as suas fraquezas, a sua clientela fiel. Conhecê-los já é começar a poupar.

Pingo Doce
Aqui encontra-se uma boa relação qualidade/preço, com promoções regulares. Atenção no verão nas grandes cidades : o Pingo Doce aumenta bastante os preços, porque a procura dispara com os turistas. O cartão de fidelização (Cartão Poupa Mais) permite acumular descontos interessantes, até muito interessantes se fizerem as vossas compras principalmente lá todos os meses. Ouvimos muitas vezes “eu não ligo às promoções”, até ao dia em que o desconto já vai em dezenas de euros no talão.

Continente
Muito popular, esta insígnia oferece muitas vezes preços competitivos nos produtos nacionais, sobretudo durante as grandes campanhas promocionais. Os cartões Continente podem também ser usados noutras lojas parceiras (por exemplo Worten, para eletrónica). Resultado : os vossos iogurtes de terça podem financiar o vosso frigorífico do mês seguinte.

Minipreço
É a cadeia de hard-discount portuguesa. Encontram-se produtos a preços baixos, perfeito para o básico de mercearia, conservas, leite, massa, papel higiénico. É a opção desenrasca, alimenta, cumpre a função”, sem floreados.

Auchan (ex-Jumbo)
Muitas vezes um pouco mais caro nalguns produtos, mas a oferta é ampla, encontra-se facilmente biológico, alternativas vegetarianas e produtos franceses que podem faltar noutros sítios. Muito útil quando bate aquela saudade de um queijo um pouco mais específico do que um flamengo industrial.

Lidl
O Lidl tornou-se quase uma instituição nacional. A zona de padaria é atacada a qualquer hora (os pastéis de nata saem do forno e desaparecem a uma velocidade impressionante). Produtos europeus, preços baixos, qualidade estável. Há pessoas que fazem todas as compras só ali, e honestamente, percebe-se porquê.

Dica local : vigiem os folhetos online ou via apps. Os Portugueses não "vão às compras", eles planeiam. Semana fruta e legumes aqui, semana detergente ali. Sim, é uma ginástica, mas compensa rápido !

Os mercados tradicionais, a qualidade ao melhor preço
Se há uma coisa que faz bater o coração dos Portugueses, são os mercados (as “feiras”). Não se vai lá só para comprar. Vai-se para ver, falar, comparar, provar, comentar a chuva da semana passada. Estes mercados existem em todas as cidades e em todas as vilas, e são muitas vezes um encontro semanal quase ritual.

As frutas e legumes

São muitas vezes mais baratos do que no supermercado, e mais saborosos. Tomates que sabem mesmo a tomate, laranjas do Algarve, batata-doce do sul, cebolas enormes que podiam alimentar uma família inteira. Compra-se diretamente ao produtor, conversa-se sobre o tempo que fez no campo, e às vezes ainda se sai com um molhinho de coentros oferecido “para provar”.

O peixe

Num país virado para o mar, é impossível ignorar. Em Setúbal (zona de Lisboa) ou em Matosinhos (zona do Porto), as lotas e os mercados de peixe são muito conhecidos. Os preços desafiam a concorrência e a frescura é tal que, às vezes, o peixe ainda está rijo. Um conselho : se não souber o que escolher, digam que querem “peixe para grelhar” e deixem o vendedor decidir. Vão receber o melhor do dia.

Os nossos conselhos (e gratuitos) : vão ao mercado no fim da manhã, sobretudo ao sábado. Os vendedores preferem escoar o que sobra a preços baixos em vez de voltar para casa com tudo. Muitas vezes assistimos a pequenas leilões improvisados ao contrário : “vá lá, dois quilos pelo preço de um e eu vou-me embora”.

O low-cost para a casa, móveis e decoração baratos

Montar um apartamento sem vender um rim ? Sim, é possível em Portugal, e sem acabar com uma cadeira manca que ameaça as costas.

Espaço Casa
É uma das marcas portuguesas líderes na venda de artigos para a casa : arrumação, têxteis, decoração, loiça, pequeno mobiliário. A insígnia existe há mais de 17 anos e tem mais de 70 lojas em Portugal, Espanha e Angola. É aquela morada do “vou só ver”, que acaba em “pronto, leva o cesto” (um bocado como na Action ; tenho a certeza de que sabem do que estou a falar !)

Hôma (ex-Deborla)
Outra marca portuguesa, especializada em artigos para a casa, acessórios de decoração, pequeno mobiliário. Muitas soluções de arrumação a preços acessíveis, prático quando temos um T2 que, na realidade, tem tamanho de T1.

Conforama, Leroy Merlin, AKI
Para móveis mais sérios e bricolage. Encontram-se promoções interessantes com frequência, sobretudo em eletrodomésticos de entrada de gama e material de renovação.

IKEA
Obrigatório para orçamentos reduzidos, presente na zona de Lisboa e Porto. Atenção no entanto : os preços não são necessariamente os mesmos que em França. Alguns produtos importados ficam mais caros, mas outros (fabricados localmente ou muito distribuídos em Portugal) são mais vantajosos.

E claro, há a segunda mão…

OLX e Custo Justo

Encontra-se de tudo : móveis, eletrodomésticos, colchões, candeeiros, às vezes até peças de alta gama a preços quase ridículos. Vale sobretudo a pena ficar de olho nos anúncios à volta de Paços de Ferreira, grande região da indústria do mobiliário. Muitas vezes são peças de muito boa qualidade revendidas a preços imbatíveis.

Facebook Marketplace

Muito ativo em Portugal, sobretudo nas grandes cidades. Os expatriados que estão de partida vendem muitas vezes todo o mobiliário numa só semana, às vezes em lote. Os Portugueses locais, esses, são muito rápidos a responder : é preciso mandar mensagem logo se vir algo que lhe interessa. Aqui, ganha quem diz primeiro “passo aí hoje”.

As roupas e acessórios, entre lojas vintage e outlets

Portugal não é um país particularmente caro para se vestir, mas há ainda melhor do que os grandes nomes internacionais (Zara, Mango, H&M, etc.). E vale a pena.

As friperies ("lojas vintage")
Em Lisboa e no Porto, há cada vez mais lojas vintage com peças em segunda mão a preços baixos. Algumas vendem mesmo ao quilo. Paga-se um valor por quilo e pode-se sair com um casaco de cabedal com ar de concerto de 1984.

Humana
Cadeia solidária muito presente em meio urbano. Roupa selecionada, organizada, arrumada, e os preços baixam semana após semana se as peças não saem. Não é raro sair de lá com um casaco por 5€ só porque teve paciência de esperar pela quarta-feira certa.

Freeport Lisboa Fashion Outlet
Situado em Alcochete, é o maior outlet do país. Marcas internacionais, reduções que podem ir até -70 %. Vê-se lá bastante lisboeta ao sábado de manhã, a dizer “vou só dar uma vista de olhos”, e depois voltar com três sacos.

Vila do Conde Porto Fashion Outlet
Outra morada de culto no norte (uma das minhas favoritas !) Conhecido pelos bons negócios, sobretudo na última quinta-feira do mês, quando os preços descem ainda mais do que o habitual ; é um verdadeiro bom plano se estiverem na região.

Dica local : aproveitem os "saldos", os períodos oficiais de saldos em Portugal, em janeiro e julho. Os descontos começam muitas vezes nos -50 % e podem ir até -70 % no fim do período. Isto é levado a sério : há Portugueses que compram o casaco de inverno… em julho.

O digital e a eletrónica, onde encontrar os melhores preços ?

A eletrónica pode ser cara em Portugal, mas há margem de manobra.

Worten

Eletrodomésticos, informática, telemóveis… Esta loja oferece uma grande variedade, promoções frequentes, e está muitas vezes instalada em centros comerciais Continente. É aquele sítio onde se vai "só ver o que há", e de onde se sai com uma máquina de café debaixo do braço.

Radio Popular

Menos conhecida pelos estrangeiros, mas muitas vezes competitiva nos grandes eletrodomésticos, sobretudo durante campanhas promocionais (operações “IVA de volta”, descontos-relâmpago, etc.). Conselho simples : verifiquem sempre o preço de um frigorífico na Radio Popular antes de o comprarem noutro lado.

Aplicações e bons planos digitais

Cada vez mais Portugueses usam o telemóvel para poupar no dia a dia. Vêem-se pessoas na caixa que passam o cartão de fidelização digital mais depressa do que o cartão multibanco.

KuantoKusta

Comparador de preços português muito útil para eletrónica, eletrodomésticos, e às vezes até material informático profissional. Antes de comprar, confirma-se ali.

OLX e CustoJusto

As plataformas de segunda mão, claro. Revende-se, compra-se, arranja-se uma mesa de centro por 15€, dá-se uma segunda vida a uma máquina de lavar.

Cartões de fidelização digitais (Continente, Pingo Doce…)

Agora está tudo centralizado em aplicações que dão acesso a cupões e descontos exclusivos. Em Portugal, não usar cartão de fidelização na caixa é visto quase como deixar dinheiro em cima do balcão.

Too Good To Go

Tal como em França : esta aplicação permite comprar, a preços baixos, os excedentes diários de pastelarias, restaurantes, padarias. Nem sempre se escolhe exatamente o conteúdo, mas por alguns euros volta-se para casa com um saco cheio.

Saúde e farmácia, não pagar demasiado caro 

Os medicamentos em Portugal são globalmente mais baratos do que em França, mas os preços variam de uma farmácia para outra. Sim, pela mesma caixa de vitaminas podemos pagar mais ou menos.

Descarreguem a aplicação Farmácias de Serviço. Indica as farmácias de serviço (muito útil sobretudo nos feriados e ao domingo ; experiência própria) e permite comparar os preços de certos produtos não comparticipados : vitaminas, bálsamos, cremes para a pele, etc. Prático quando não se quer pagar 14€ pelo que custa 8€ duas ruas mais abaixo.

O vinho e a gastronomia, prazer a pequeno preço

Portugal é uma terra de gastronomia, e a boa notícia é que toda a gente pode desfrutar sem se arruinar. É também por isso que os Portugueses passam tanto tempo no café, no restaurante e na pastelaria. Faz parte da cultura, e não é só “para dias especiais”.

O vinho

Uma boa garrafa (tinto, branco ou o famoso vinho verde) encontra-se a partir de 3 a 4€ no supermercado. Melhor ainda : procurem as “adegas”, as caves locais, onde se pode comprar vinho a granel, às vezes ao litro, e voltar com a própria garrafa cheia no momento.

As pastelarias

Por menos de 2,50 €, pode saborear um café e um pastel de nata. Paga-se, encosta-se ao balcão em inox, conversa-se três minutos com o empregado, e segue-se viagem. É um ritual diário (para muitos trabalhadores logo de manhã, antes do trabalho), quase um direito.

Os restaurantes populares (“tascas”)

O “menu do dia” (sopa + prato + bebida + sobremesa ou café) anda pelos 8 a 12€ na maioria das cidades fora das zonas ultra turísticas. São pratos de trabalhadores, servidos ao almoço durante a semana. Muitas vezes muito simples mas também muito bem servidos (um pouco menos do que antigamente, é verdade). É o tipo de sítio onde lhe trazem pão sem pedir e onde o empregado começa a tratar-lhe por “tu” ao fim de três frases.

Dica de especialista

Evitem as zonas hiper turísticas como o centro histórico de Lisboa ou a Ribeira, no Porto. Duas ruas mais longe, os preços caem para metade e as doses duplicam. Os melhores sítios são muitas vezes aqueles que nem têm ementa em inglês.

Os transportes, baixar a fatura no dia a dia

Os transportes podem pesar no orçamento, mas também aqui existem soluções pensadas para os locais (e que os recém-chegados só descobrem mais tarde).

Os passes mensais
Em Lisboa e no Porto, os passes mensais custam à volta de 40€ e dão acesso ao autocarro, metro, elétrico e comboios urbanos. Para quem anda todos os dias, é imbatível !

Bolt e Uber
Muitas vezes mais práticos e mais baratos do que os táxis tradicionais, sobretudo à noite ou fora do centro. Muita gente usa sem sequer ponderar comprar carro.

Via Verde
Aplicação indispensável se conduzirem em Portugal ou se alugarem carro. Facilita o pagamento das portagens, do estacionamento privado e guarda um registo claro das despesas ; quando se conduz muito, é um conforto incrível ! E também, pode acontecer que o vosso veículo (classe 2 por exemplo se tiverem um SUV), passe para classe 1 se tiverem Via Verde ; não é verdade para todos os carros mas aconteceu-me com o meu Renault Kadjar, por isso se vos puder ajudar é com todo o gosto ! Podem verificar a classe do vosso carro diretamente no site da Via Verde.

Dica extra : para viagens entre cidades, escolham Rede Expressos (autocarros de longo curso) ou os comboios da CP (Comboios de Portugal). Reservando com antecedência, encontram-se bilhetes mesmo interessantes, às vezes à volta de 5 a 10€ por viagem. Não é mito : pode atravessar o país pelo preço de um brunch em Paris !

Viver ou viajar em Portugal, é isto também : aprender a aproveitar um estilo de vida caloroso, acessível, simples, sem necessariamente se arruinar. Entre os mercados, as insígnias locais, as aplicações, os cartões de fidelização e os hábitos de consumo herdados das famílias portuguesas, é perfeitamente possível comprar bem e barato ao mesmo tempo que se apoia a economia local.

A palavra-chave, no fim de contas, continua a ser adaptação. Comparar, não ter medo de entrar em sítios que por fora não parecem nada de especial, falar com os vendedores, aproveitar as horas mortas, usar as apps… Portugal oferece imensas alternativas, e quem se desenrasca melhor financeiramente não é necessariamente quem ganha mais, mas quem aprendeu a jogar com todas estas opções.