A Ginjinha
cerejas, açúcar e história lisboeta
Quando pensamos num pequeno copo que resume Lisboa num só gole, a Ginjinha surge muitas vezes em primeiro. Vermelho-escuro, doce mas não demasiado, servida num copo minúsculo ou às vezes numa tacinha de chocolate, este licor de ginjas encarna uma deliciosa mistura de tradição popular e prazer urbano. Eis tudo o que há para saber e saborear sobre ela.
O que é a Ginjinha ?
A Ginjinha (às vezes simplesmente « Ginja ») é um licor português obtido pela maceração de ginjas (em português « ginja », Prunus cerasus austera) em aguardente ou outro álcool forte, ao qual se adiciona açúcar e muitas vezes especiarias como canela ou cravinho. O resultado : um sabor que oscila entre a acidez frutada e a doçura, uma cor vermelho-rubi, e um teor alcoólico geralmente entre 18 % e 24 %.
Tradicionalmente bebe-se « com elas » ou « sem elas » (ou seja, com ou sem as ginjas maceradas no fundo do copo).
A origem e alguns marcos históricos
A história exata da Ginjinha é um pouco nebulosa, mas deliciosa. Uma versão amplamente divulgada atribui a criação a Francisco Espinheira, um monge galego estabelecido na igreja de Santo António, em Lisboa, que, no século XIX (por volta de 1840), teria combinado ginjas, aguardente, açúcar e canela, obtendo assim uma bebida rapidamente popular.
A mais antiga loja-bar dedicada à Ginjinha em Lisboa, A Ginjinha, está situada no Largo de São Domingos 8, perto da Praça do Rossio, e foi fundada por volta de 1840.
Posteriormente, a Ginjinha espalhou-se para outras regiões de Portugal, nomeadamente para Óbidos, onde às vezes é servida numa pequena chávena comestível de chocolate.
Uma bebida tipicamente lisboeta
Em Lisboa, passear pelas ruas do centro (Baixa, Rossio, Restauradores) rima frequentemente com tropeçar num pequeno balcão de Ginjinha. Faz-se uma pausa por instantes, pede-se « com elas, por favor », brinda-se com locais ou turistas e prova-se. O preço ? Modesto. Muitas vezes entre 1 € e 1,50 € o copo.
O ritual é simples mas encantador : o balcão é minúsculo, o ambiente espontâneo. Em A Ginjinha, por exemplo, nem sempre há lugares sentados, bebe-se de pé, conversa-se, parte-se. A ginja no fundo do copo é um pequeno extra a não negligenciar.
Como é feita
O processo de produção permanece bastante simples mas exige paciência e cuidado. As ginjas (com caroço, muitas vezes) são deixadas a macerar em aguardente com açúcar e especiarias. O tempo de maceração pode variar conforme os produtores.
A fruta confere uma bela cor, um aroma intenso, a canela e/ou o cravinho trazem uma nota especiada discreta. O teor alcoólico e o nível de açúcar variam mas o equilíbrio deve ser claro. Queremos sentir a ginja tanto quanto a base alcoólica.
Alguns exemplos atuais
Em Lisboa, o bar A Ginjinha continua a ser um dos endereços incontornáveis.
Em Óbidos, a Ginja (variante da Ginjinha) é servida em chávenas de chocolate. Este pequeno toque doce torna-se uma recordação gulosa para levar.
Algumas marcas contemporâneas apostam numa produção artesanal, biológica ou sem aditivos, como a marca « Ginja9 » que ganhou prémios internacionais.
Porque gostamos de Ginjinha ?
Várias razões, tem um sabor reconhecível e típico : frutado, ligeiramente ácido, sem cair numa sobremesa artificialmente açucarada. É um momento lisboeta : parar um instante, beber um copinho numa esquina, viver a cidade de outra forma. Representa a forte cultura local : pertence ao património dos cafés e das ruas de Lisboa. É acessível, por um preço modesto, descobre-se, prova-se, segue-se caminho.
Bem saboreá-la (e alguns conselhos)

Pede « com elas » para ter a ginja no fundo do copo.
Escolhe um copo pequeno, leva o teu tempo : não é um shot bruto, mas um momento de degustação.
Atenção ao caroço da ginja, não o engulas !
Se estiveres em Óbidos, experimenta a versão na chávena de chocolate, uma experiência suave e divertida.
Como acompanhamento, pode ser bebida como digestivo após uma refeição, ou simplesmente como « copo de fim de dia ».
Se és sensível ao açúcar ou ao álcool, escolhe um produtor ou uma versão menos doce : existem grandes diferenças entre marcas.
E agora, um pouco de contexto atual
A Ginjinha continua viva, a renovar-se mantendo-se fiel ao seu espírito. Às vezes é exportada (embora a maior parte do consumo permaneça em Portugal) e alguns produtores dão-lhe um perfil « premium ».
É também um pequeno cartão-de-visita de Lisboa. Quando um turista toma uma « ginjinha » sob os arcos de um antigo bar, prova um fragmento de história. Mas o equilíbrio é por vezes frágil : a tradição dos bares antigos está sob pressão pelo turismo e pelas transformações urbanas.
Então viva a Ginjinha
Se vens a Lisboa e queres beber algo realmente local, procura um copo de Ginjinha. Não é apenas um digestivo : é uma tradição, uma pequena história, um momento de pausa na cidade.
A ginja, o álcool, o açúcar, a canela : tudo se conjuga para um sabor distinto que não se parece com mais nada. E o melhor ? É modesta, discreta, autêntica.
Então sim : « Sabe que nem ginjas »
sabe mesmo a ginja. Saúde !
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