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Como a saudade se tornou a palavra intraduzível  mais famosa do mundo ?

Como a saudade se tornou a palavra intraduzível mais famosa do mundo ?

Ah, saudade… essa palavra que flutua no ar português como uma nota de fado, que se insinua nas conversas sem que se consiga realmente traduzi-la. Se vive em Portugal, certamente já a ouviu, talvez até a tenha sentido, sem conseguir explicá-la ! E se ainda não a conhece, prepare-se : uma vez que se compreende a saudade, nunca mais se vive sem ela.

Porque sim, saudade não é apenas uma palavra. É um estado de alma, por vezes difícil de explicar, um perfume de nostalgia, uma emoção que parece ter sido inventada para os dias de chuva e os amores distantes. E, sobretudo, é provavelmente a palavra “intraduzível” mais famosa do mundo. Mas como é que esta expressão tão tipicamente portuguesa se tornou um fenómeno mundial ?

Uma emoção à portuguesa

Comecemos pelo início : a saudade é essa mistura de melancolia, de falta, de amor e de ternura que aperta o coração sem o partir. É um pouco como a tristeza… mas com sol lá dentro (sim, dito assim, parece complicado). Os portugueses dizem muitas vezes que não se pode compreender a saudade sem ser português. E, de certa forma, não estão enganados : ela está enraizada na sua história, na sua música, na sua forma de amar.

A palavra vem do latim solitas, que significa solidão. Mas em português ganhou uma forma poética, quase musical. Pode-se ter saudade de uma pessoa, de um lugar, de uma época, ou até de algo que nunca se conheceu. Sim, é subtil. Sim, é bonito. E sim, é tipicamente português (por exemplo, certamente já ouviu luso-descendentes dizerem que têm “saudade de Portugal”, e alguns até o têm tatuado, só para mostrar o quanto este sentimento é profundo !)

Das caravelas ao fado, uma longa travessia

A saudade terá criado raízes no tempo dos Descobrimentos. Imagine : os marinheiros a partir dos portos de Lisboa durante meses (ou até anos), deixando para trás famílias, amores, terras. Nos cais, já se cantava essa tristeza suave, essa falta impossível de preencher. As mulheres esperavam, os homens sonhavam com o regresso, e o país inteiro aprendeu a viver com essa emoção suspensa entre a ausência e a esperança.

Séculos mais tarde, essa melancolia encontrou a sua voz no fado, a música da alma portuguesa. Ouça Amália Rodrigues cantar “Estranha forma de vida”, e vai compreender. Mesmo sem falar uma palavra de português, sentirá esse aperto no peito. É isso, a saudade.

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Intraduzível… mas universal

O que torna a saudade fascinante é que nenhuma outra língua a traduz perfeitamente. Os ingleses têm longing ou yearning. Os franceses “nostalgie” ou “manque”. Os alemães “Sehnsucht”… Mas nenhuma destas palavras tem o mesmo calor, a mesma delicadeza, a mesma intensidade suave.

É uma palavra que escapa ao dicionário para se infiltrar no sentimento. Não pertence apenas à língua, mas também à cultura, à música, à forma de viver. E é provavelmente por isso que intriga tanto : porque dá nome a algo que todos sentimos, mas que só os portugueses souberam batizar.

A saudade exportada (e adotada)

O mundo inteiro ficou fascinado pela saudade. Primeiro graças ao fado, depois à literatura (obrigado, Fernando Pessoa e José Saramago), e mais recentemente graças ao cinema, à música e até à publicidade ! Hoje, a palavra aparece em canções brasileiras, em poemas espanhóis, e até em publicações no Instagram com legendas do tipo “Feeling saudade tonight”. Sim, a saudade viajou, como os marinheiros de antigamente, e instalou-se um pouco por todo o lado onde se ama, onde se sonha, onde se perde.

No Brasil, ganhou cores mais suaves, mais sensuais. Na bossa nova, torna-se leve, quase sorridente, como em Chega de Saudade, de João Gilberto. É a mesma emoção, mas de calções e sandálias.

Uma palavra que resume um povo

A saudade é também um espelho de Portugal : um país virado para o mar, sempre um pouco entre o aqui e o além, entre o passado e o presente. Os portugueses aprenderam a viver com a falta, a transformá-la em algo belo, quase nobre. Vemos essa filosofia na sua maneira de ser : doce, nostálgica, muitas vezes reservada mas cheia de profundidade.

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A saudade é a prova de que se pode estar triste sem desespero, melancólico sem drama. Aliás, alguns linguistas dizem que, se esta palavra é intraduzível, é porque fala de uma emoção coletiva. Não é apenas um sentimento, é um património emocional.

E porquê tanto sucesso ?

Porque, no fundo, num mundo onde tudo acontece depressa, a saudade fala-nos. Lembra-nos o direito de abrandar, de sentir, de ter saudades. Dá beleza ao que se perdeu, luz ao que falta. É a palavra da doçura depois da tempestade, do amor depois da ausência.

E sejamos sinceros : há algo de muito sedutor nesta ideia de uma palavra que não se pode traduzir. É um pouco como um segredo, uma fórmula mágica reservada a quem já a viveu.

A palavra que o mundo inveja aos portugueses

Hoje, a saudade é estudada por linguistas, citada em romances, tatuada em pulsos e impressa em t-shirts. Tornou-se uma espécie de “marca emocional” de Portugal. E talvez seja a mais bela homenagem que se pode prestar a um povo : ter inventado uma palavra para nomear aquilo que todos sentem, mas que ninguém soube dizer.

Por isso, da próxima vez que ouvir um fado, ou que pensar num momento que gostaria de reviver só mais uma vez, não procure palavras. Já a encontrou : é a saudade.

E, no fundo, se é intraduzível, talvez seja porque não precisa de o ser. Vive-se, simplesmente.


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