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Porque é que os portugueses amam tanto o bacalhau se ele não existe nas suas águas?

Porque é que os portugueses amam tanto o bacalhau se ele não existe nas suas águas?

Símbolo nacional e tesouro culinário, o bacalhau conta uma história de mares distantes, tradições e engenho gastronómico.

Portugal é um país virado para o mar.
A sua costa estende-se por mais de 800 quilómetros, e, no entanto, o peixe mais emblemático da sua cozinha, o bacalhau (o peixe seco e salgado), não vive nas águas portuguesas.
Uma curiosidade que intriga os viajantes e fascina os amantes da gastronomia.

Como é que este peixe vindo do Norte conquistou o coração dos portugueses ao ponto de se tornar um pilar da sua identidade culinária?
A história do bacalhau é a de um encontro entre necessidade, descoberta e saber-fazer.


Uma história nascida do mar e da descoberta

O amor português pelo bacalhau remonta à época dos Descobrimentos, no século XV.
Os navegadores portugueses, explorando o Atlântico Norte, descobriram os bancos de bacalhau da Terra Nova, ao largo do Canadá.
Este peixe abundante, fácil de pescar e de conservar, tornou-se rapidamente um recurso estratégico.

Na altura, a conservação dos alimentos era um desafio: sem refrigeração, era preciso encontrar formas de garantir que os mantimentos resistissem às longas viagens.
Os marinheiros tiveram então a ideia de salgar e secar o bacalhau, uma técnica herdada dos vikings.
Este processo simples mas engenhoso permitia conservar o peixe durante meses, realçando ao mesmo tempo o seu sabor.

De regresso a Portugal, os marinheiros trouxeram este tesouro do Norte, que pouco a pouco se impôs nas cozinhas locais.


Do peixe dos marinheiros ao prato do povo

Ao longo dos séculos, o bacalhau transformou-se num ingrediente central da gastronomia portuguesa.
Inicialmente consumido por marinheiros e pelas classes populares, rapidamente se tornou um alimento do quotidiano, nutritivo e económico.

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Durante a ditadura de Salazar, no século XX, o Estado chegou mesmo a incentivar o seu consumo, por razões práticas e patrióticas: o bacalhau, importado em grandes quantidades, era estável, barato e fácil de preparar.
Foi assim que nasceu a célebre expressão: “o bacalhau, o fiel amigo do português”.

Ainda hoje, continua a ser um símbolo de união nacional: está presente em todas as mesas, desde os pequenos restaurantes de aldeia até às grandes celebrações familiares.


Mil e uma receitas de bacalhau

Diz-se muitas vezes que existem mais de mil maneiras de preparar bacalhau em Portugal — uma para cada dia do ano.
E esta afirmação quase não é exagerada.

Entre as mais famosas estão o bacalhau à Brás, uma deliciosa combinação de bacalhau desfiado, batata palha, ovos mexidos e salsa.
Ou o bacalhau com natas, um gratinado cremoso com cebola e natas.
O bacalhau à Gomes de Sá, originário do Porto, junta bacalhau, batatas e azeitonas, numa receita simples mas profundamente reconfortante.

Cada região tem a sua versão, adaptada aos seus gostos e tradições.
E na noite de Natal, o bacalhau cozido com couves, batatas e ovos reina soberano na mesa da maioria das famílias portuguesas.


Um sabor de identidade e de nostalgia

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O bacalhau não é apenas um alimento: é um elo cultural e emocional.
Evoca a memória dos marinheiros, o mar distante, o saber ancestral transmitido de geração em geração.
É também o sabor da “saudade”, esse sentimento doce e melancólico tão português.

Muitos portugueses que vivem no estrangeiro levam consigo uma posta de bacalhau seco, como se transportassem um pedaço da sua terra natal.
Não é apenas o sabor que importa, mas tudo o que ele representa: a família, o lar, a tradição e a perseverança.


Um produto de importação tornado património nacional

Ironia do destino, o bacalhau que se encontra em Portugal continua hoje a vir de longe: Islândia, Noruega, Canadá ou Gronelândia.
Mas é transformado, preparado e valorizado segundo métodos portugueses, que o tornam único no mundo.

A secagem, a demolha, a dessalga e a cozedura são etapas rigorosas, quase rituais.
É aí que reside o engenho português: transformar um peixe estrangeiro num emblema nacional.

Nos mercados tradicionais, os enormes pedaços de bacalhau seco exalam um aroma forte e familiar.
Tocam-se, comparam-se, escolhem-se com atenção — é uma verdadeira arte popular.


Conclusão

O bacalhau é muito mais do que um prato: é uma história de amor entre um povo e o mar.
Simboliza a capacidade portuguesa de tirar o melhor dos elementos, de adaptar o estrangeiro e transformá-lo em algo profundamente local.

Por detrás de cada receita esconde-se uma parte de história, de memória e de criatividade.
E se o bacalhau não nada nas águas de Portugal, flutua certamente no coração dos que lá vivem — e de todos os que o provam.

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