
Ah, o arroz de pato… Só de pensar, já fico com fome ! Este prato é um pouco o “comfort food” português por excelência, aquele que perfuma a casa, aquece o coração e faz esquecer o mau tempo (e às vezes até as discussões familiares, é verdade !). Se vivem em Portugal, é impossível escapar-lhe : está em todos os menus, desde a tasca de aldeia até às tabernas da cidade. E se já tiveram a sorte de o provar, sabem bem : um bom arroz de pato nunca se esquece.
Um prato do povo que se tornou ícone
O arroz de pato é, de certa forma, o menino querido da cozinha portuguesa. Nasceu no campo, quando se cozinhava com o que havia à mão : arroz, um pouco de pato, alguns legumes e um toque de chouriço ! Com o tempo, foi ganhando estatuto até se tornar um clássico das grandes mesas de domingo.
Hoje em dia, continua a ser o prato dos almoços de família, das festas, dos reencontros. Um símbolo de partilha, simples mas generoso, como tudo o que Portugal faz de melhor.
O princípio ? Uma receita em duas fases (e um pouco de paciência)
O arroz de pato é um prato que se conquista. Nada de atirar tudo para dentro de uma panela e esperar que “coza”. Não, aqui o segredo é o tempo. Deixa-se apurar, dourar, gratinar. Põe-se música (uma boa playlist de fado, ou um rancho folclórico, claro) e deixa-se levar.
Porque sim, este prato prepara-se em duas grandes etapas : a cozedura do pato para obter uma carne tenra, suculenta e aromática ; e a preparação do arroz cozido no caldo do pato, para que absorva todos os sabores. Tudo vai depois ao forno, gratinado com rodelas de chouriço (e às vezes um pouco de manteiga para os mais gulosos, pessoalmente, adoro). Resultado ? Uma crosta dourada, um arroz macio e cremoso, e aquele aroma irresistível de domingo ao almoço que enche o ar !
Os ingredientes (para 4 a 6 pessoas)
Preparem os aventais, as papilas e, sobretudo, o apetite (de certeza que não é o prato ideal se almoçaram uma francesinha ao meio-dia !)
- 1 pato inteiro (ou 4 coxas se preferirem algo mais simples)
- 2 cebolas
- 2 cenouras
- 2 dentes de alho
- 1 folha de louro
- 400 g de arroz (de preferência arroz português de grão médio)
- 150 g de chouriço fatiado
- 1 copo pequeno de vinho branco
- Azeite, sal, pimenta
- (Opcional : uma pitada de paprika para dar mais sabor)
Etapa 1 : o caldo da felicidade
Numa panela grande, coloquem o pato, as cenouras, as cebolas, o louro, um pouco de sal e pimenta. Cubram com água e deixem cozer lentamente durante cerca de uma hora e meia, até a carne se soltar com facilidade.
Dica : não deitem fora o caldo ! É ele o segredo do sabor. Coem-no e guardem-no com carinho : é neste caldo que o arroz vai cozer.
Quando o pato estiver pronto, desfiem a carne, retirando a pele e os ossos. (Nesta altura, a tentação de “provar um bocadinho” é inevitável. Façam-no, é tradição.)
Etapa 2 : o arroz, esse herói discreto
Numa frigideira, refoguem o alho e a cebola num pouco de azeite. Juntem o arroz, mexam bem e depois adicionem o dobro do volume em caldo quente.
O segredo é acrescentar também um copo pequeno de vinho branco, dá aquele toque subtil, ligeiramente frutado, que faz toda a diferença.
Deixem cozinhar em lume médio até o arroz absorver quase todo o líquido. Deve ficar um pouco firme, pois acabará de cozer no forno.
Etapa 3 : o momento do gratinado
Pré-aqueçam o forno a 180 °C.
Num tabuleiro que possa ir ao forno, coloquem uma primeira camada de arroz, depois toda a carne de pato desfiada, e finalmente uma segunda camada de arroz por cima.
Alisem a superfície com uma colher e decorem com as rodelas de chouriço em forma de flor. (É a etapa “instagramável” da receita, não a descuidem !)
Levem ao forno durante cerca de 20 minutos, até que o topo fique dourado e ligeiramente crocante.
À saída do forno…
Fechem os olhos e respirem fundo !
Esta mistura de arroz, chouriço e carne macia é Portugal inteiro num prato. Sirvam bem quente, diretamente no tabuleiro, acompanhado de uma salada verde ou de um copo de vinho tinto do Alentejo.
E aí perceberão porque se diz muitas vezes que “o arroz de pato é a receita da paciência e da recompensa”.

Pequenas variações (porque cada um tem o seu segredo)
Cada família tem a sua versão.
Alguns juntam um pouco de bacon para dar mais sabor, outros substituem o vinho branco por um toque de vinho do Porto seco.
Há também quem refogue o arroz diretamente na gordura do pato (sim, é rico, mas tão bom…). E depois há os puristas, que só juram pela versão tradicional, “como fazia a avó”. E honestamente ? Têm razão.
O que se adora neste prato
O arroz de pato é um prato que conta uma história : a do tempo que se dedica a fazer as coisas bem. É uma ode à lentidão, à convivência, à generosidade. Um prato que se cozinha tanto com as mãos como com o coração. E acima de tudo, é um prato que nunca se come sozinho. Porque um bom arroz de pato é como uma boa lembrança : partilha-se.
Então, qual é o segredo do arroz de pato ?
É simples : tempo, amor e bom apetite. Ah, e um pequeno conselho de amigo : façam sempre um pouco a mais, no dia seguinte, fica ainda melhor !
Bom apetite !
Articles suggérés

Bolo Rei: O Bolo das Festas de Fim de Ano
Quando chega dezembro em Portugal, o ar enche-se com o aroma irresistível do Bolo Rei, o bolo dos reis. É um pão doce rico, colorido e festivo, em forma de coroa, decorado com frutas cristalizadas e açúcar.

Pão de Ló
Há em todas as famílias portuguesas um bolo que sai do forno como um sol: o pão de ló. Dourado, leve, macio, anuncia sempre algo de alegre. É o bolo dos domingos de roupa bonita, das mesas demasiado cheias e das tias que te abraçam com força a dizer que já cresceste.
.jpg&w=3840&q=75)
Pastéis de Bacalhau
Há pratos que cheiram a férias e a avó. Os pastéis de bacalhau são exatamente isso. Estes pequenos bolinhos dourados de bacalhau, crocantes por fora e macios por dentro, são ao mesmo tempo um aperitivo, uma madeleine de Proust e a prova de que Portugal percebe tudo de fritos.

Receitas familiares de bacalhau à Brás
O bacalhau à Brás, por vezes escrito bacalhau à Braz, é um dos pratos mais emblemáticos da gastronomia portuguesa. Simples, nutritivo e acolhedor, ilustra na perfeição a capacidade dos portugueses de transformar um ingrediente humilde — o bacalhau salgado — num prato requintado e saboroso.

Como fazer uma cataplana de peixes em casa ?
Não sei para vocês, mas para mim a cataplana… só a palavra já evoca o som da tampa que se abre, o vapor que se liberta, o aroma de alho, de vinho branco e de mar que invade a cozinha. Um prato português cheio de sol, de humor e de convívio, mas também (vamos admitir) um pouco de desafio técnico quando se quer reproduzir em casa ! (salvo com um pouco de treino !)

Polvo à Lagareiro : o polvo assado em azeite que faz derreter Portugal (e você também)
Se há um prato que resume por si só a generosidade e a simplicidade da gastronomia portuguesa, é o Polvo à Lagareiro ! Este polvo assado em azeite, acompanhado de batatinhas crocantes e perfumado com alho, é um bocadinho de sol português num prato. É aquele prato que todos adoram : aquele que pedimos “só para provar”… e acabamos por não querer partilhar.



